Um destes cidadãos do “terceiro gênero” atende pelo nome
de Sanam Fakir e com certeza ganhará muita atenção do planeta neste ano. Mas
por quê? Simples: Snam será o primeiro transexual a concorrer às próximas
eleições no Paquistão. Isso mesmo. Um transexual poderá ser eleito como
representante do povo num país conservador, com mais de 90% da população sendo
muçulmana. População essa que em 2010 era de mais de 170 milhões de pessoas –
com cerca de 20% vivendo abaixo da linha da pobreza. E uma parcela desses
pobres é justamente composta por transexuais. São aproximadamente 300 mil que
ganham a vida na prostituição, na mendicância e na animação de festas.
"Nosso objetivo não é apenas dançar para os outros ou
pedir esmolas. Nós também temos uma vida para viver", disse Sanam à AFP.
Sanam Fakir (ao centro) junto a sua equipe de campanha. Sanam é representante dos "eunucos", que na língua local paquistanesa significa "pessoa transexuada". (Foto: Shahid Ali/AFP) |
Sanam
Fakir será candidato independente a uma cadeira no parlamento da província de
Sind, mas são poucas as chances de vencer neste reduto do Partido Popular do
Paquistão (PPP, no poder), onde grandes famílias de proprietários de terras dão
as instruções de voto aos seus empregados. Algo parecido com o conhecido “voto
de cabresto”.
"Eu sei que será difícil, mas cada um deve contribuir
para melhorar a sociedade. Não somos corrompidos, não temos famílias e nossos
direitos são limitados", acrescentou Fakir, em referência à corrupção em
seu país e a uma vida política feudal.
Sanam dirige uma organização que contribui para a educação
de outros transexuais. "Nós temos instrução agora. Antes as pessoas riam
de nós, mas começaram a nos respeitar", afirma.
A candidatura de Sanam, de 32 anos, não representa apenas
o reconhecimento dos direitos dessa comunidade esquecida no país, mas sim o
surgimento de uma pessoa que daqui a alguns anos poderá ser lembrada como a
primeira figura que mostrou que as pessoas podem conviver em harmonia em uma
sociedade conservadora.
As eleições no Paquistão, marcadas para meados de maio, também
representam outro importante fato para a iniciante democracia local: será a primeira
vez que ocorrerá um pleito logo após o governo conseguir o cumprimento de um
mandato completo.
O tema, é claro, ainda será amplamente discutido por quem
apoia ou reprova o reconhecimento dos direitos dos transexuais, travestis e
hermafroditas. Ainda há muito conservadorismo no planeta, mas exemplos como o
de Sanam devem ser seguidos.
Separar as pessoas em gêneros sim é algo necessário para a
organização social de um país, mas há que se lembrar que todos nós somos
representantes de um mesmo grupo: o dos seres humanos.
Alguns trechos foram extraídos de reportagem publicada no portal Terra.
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